quarta-feira, 30 de maio de 2018

Bom mesmo é beber. Pra esquecer do mundo vil, da vida vil, dos homens vis, das mulheres vis. Esquecer da nefastidão dessa experiência melancólica de rejeição açucarada. Esquecer de você, de mim, de tudo. Agüadecer minhas preces noturnas de solidão e febre. Lubrificardente minha aflição de co-existir tão cheio de remendos seus. Esquecer que te odeio e te amo. E da indiferença quem sabe brotar alguma cor nessa sua frieza e controle, algo mais que a contemplação mórbida da vida, a estagnação diante da paixão, algum suspiro nesses lábios quietos, algum orgasmo nesse corpo inerte, algum rugido nessa alma desfalecida e tediosa. Algum levante, algum motim nessa normalidade exasperante de não-paixão, de não-ação, de não-sentir. Ou de ocultar tudo que sente com jogos infantis, enquanto guarda num calabouço obscuro no seu íntimo avarento o olor dos séculos aprisionados. Pague o preço da vida e não se permita não viver. Pague o preço da vida e não se esconda mais dela. Pague o preço da vida.